sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Neutrinos roubam a cena mais uma vez

Os neutrinos voltam à cena com os primeiros resultados do experimento Double Chooz, colaboração internacional, com participação brasileira, que tem por objetivo observar o seu estranho comportamento.

ilustração do sumiço dos neutrinos

© Fermilab (ilustração do sumiço dos neutrinos)

O experimento mostrou, com sucesso, o curioso desaparecimento de neutrinos e conseguiu encontrar um valor para o parâmetro físico que explica esse fenômeno.

Neutrinos são partículas subatômicas sem carga que de tão pequenas conseguem passar através de sólidos sem causar alterações. De fato, somos atravessados por neutrinos emitidos pelo Sol toda hora.

Existem três tipos de neutrinos: os do elétron, do tau e do múon. Recentemente, descobriu-se que essas partículas têm a curiosa propriedade de se transformar uma na outra durante sua propagação.

Os neutrinos também são produzidos, artificialmente, durante a fissão do urânio em reatores nucleares ou em aceleradores, como o LHC (Grande Colisor de Hádrons). Desde março deste ano, um detector de neutrinos do elétron está em funcionamento na usina de Chooz, na França, medindo as partículas que são emitidas e as que chegam a 1 km do reator.

usina nuclear de Chooz

© Double Chooz (usina nuclear de Chooz)

Depois de 100 dias de medição, os pesquisadores envolvidos no projeto observaram o desaparecimento dos neutrinos do elétron, o que significa que, em sua viagem do reator até o ponto onde está localizado o detector, eles devem ter se transformado em neutrinos do tau ou do múon, não identificáveis pelo equipamento usado.

Em reunião realizada no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) em outubro, pesquisadores do mundo inteiro compararam a quantidade de partículas emitidas pelo reator com o número de partículas que sumiram e chegaram ao valor mais preciso já obtido até hoje para o chamado “ângulo de mistura teta 13” (lê-se ‘um três’), um importante parâmetro envolvido na transformação dos neutrinos em curtas distâncias.

Alguns experimentos com aceleradores, como o japonês T2K, recentemente sugeriram valores para o teta 13, mas não com a precisão de 92% obtida pelo Double Chooz. “Quando falamos desse ângulo de mistura, estamos falando de medir algo muito pequeno, por isso sempre foi muito difícil encontrar esse valor”, conta o físico João dos Anjos, coordenador da equipe do CBPF no projeto.

A medida precisa do teta 13 é necessária para se chegar ao valor de outra incógnita de nome complicado na física de partículas, a chamada violação de carga paridade, que pode ajudar a explicar o mistério do sumiço da antimatéria, prevista na teoria do Big Bang sobre a origem do Universo.

E o fim desse mistério pode estar próximo. Em meados do ano que vem, o Double Chooz já terá um ano inteiro de medições, o que pode tornar o valor de teta 13 mais preciso ainda.

A medida do teta 13 é necessária para se chegar ao valor de uma incógnita da física que pode ajudar a explicar o mistério do sumiço da antimatéria

Esses resultados devem ser apresentados durante o congresso de Neutrinos 2012 em julho, em Tóquio, Japão, e espera-se que eles ajudem os pesquisadores do experimento T2K a encontrar o valor do parâmetro que pode explicar o sumiço da antimatéria.

Fonte: Ciência Hoje

Nenhum comentário:

Postar um comentário